O objetivo desse trabalho foi apresentar o relato de uma paciente de
25 anos de idade, com queixa principal de desconforto à escovação
e retração gengival classe II na região de canino inferior direito
(43), e percepção de aumento progressivo da coroa dentária. Os
elementos 42, 32 e 33 apresentavam retração classe I, mas sem
mobilidade dentária. A falta de gengiva inserida no caso levou à
necessidade de intervenção, optando-se pela técnica do enxerto
gengival livre (EGL), por causa do desnudamento parcial da
superfície radicular devido à migração apical da gengiva marginal.
Na área receptora, um retalho misto foi realizado; na área doadora,
o enxerto foi removido do palato contralateral (regiões 25-27),
desepitelizado e suturado com fi o reabsorvível. O retalho foi fechado
com fi o seda 4-0. O ganho de tecido queratinizado foi avaliado
após seis meses e um ano. A estabilidade marginal gengival foi
considerada excelente. O EGL favoreceu o controle do biofi lme na
região e, eventualmente, pode propiciar recobrimento radicular,
devendo-se levar em conta as limitações estéticas desta técnica.



A ocorrência da retração gengival, na maioria das
vezes, é multifatorial, podendo ocorrer em todas as
idades, em todas as raças e em ambos os sexos, sendo
necessário o tratamento da causa antes da intervenção
cirúrgica9. É considerada um dos problemas gengivais
estéticos de fácil percepção pelo paciente, e pode exibir
sintomas como hipersensibilidade dentinária e cárie
radicular, dentre outros10. Vários estudos vêm reportando
a elevada ocorrência clínica dessa condição periodontal
na população adulta mundial11-15.
A etiopatogenia das retrações gengivais é uma
característica frequentemente observada na clínica
odontológica, e se relaciona com fatores desencadeantes,
como: escovação traumática, lesões de cáries cervicais
não tratadas, doença periodontal, presença de próteses
fi xas ou removíveis, movimentação ortodôntica fora dos
limites ósseos e hábitos nocivos. Associam-se também
com fatores predisponentes, como características anatômicas
ósseas (deiscências, fenestrações, corticais ósseas
fi nas), inadequado posicionamento dental, presença de
fr eios e vestíbulos rasos16,10. Em um trabalho publicado
por autores17 apresentando caso clínico semelhante ao
exposto no presente trabalho, alcançou-se o objetivo do
recobrimento radicular e a obtenção de um bom resultado
estético, além da prevenção contra cárie radicular, eliminação
da sensibilidade e a possibilidade de uma melhor
higienização.
O retalho deslocado coronalmente é a primeira escolha
quando há tecido apical queratinizado adequado para a
exposição da raiz, em pacientes com elevadas expectativas
estéticas. A falta de gengiva inserida no caso apresentado
levou à necessidade de intervenção, e optou-se pelo
EGL por causa do desnudamento parcial da superfície
radicular devido à migração apical da gengiva marginal18.
O principal objetivo do enxerto gengival livre é aumentar
a faixa de gengiva inserida e interromper a progressão da
retração gengival19.
Alguns autores20 afi rmam que o EGL removido do
palato duro é, atualmente, o padrão-ouro com a fi nalidade
de aumentar pequenas áreas de mucosa queratinizada.
Todavia, nenhum resultado satisfatório é encontrado
com transplantes autólogos derivados de outros tecidos
da mucosa adjacente. As desvantagens podem incluir
a incapacidade de aquisição de enxertos maiores, altas
taxas de morbidade no pós-operatório e escassez da
estética atribuída às diferenças de textura e cor das áreas
adjacentes. No caso apresentado, percebe-se discreta
diferença de cor entre o enxerto e a área adjacente, o
que poderia ser indesejável se houvesse um alto requisito
estético na região.
Todos os trabalhos consultados relataram que a
eliminação do agente causador deva ser realizada o mais
breve possível, e que a conscientização do paciente em
relação aos fatores que desencadeiam a retração gengival
tem sido pouco abordada, pois o acompanhamento do
paciente deve ser instituído como principal forma de
tratamento/prognóstico. Do ponto de vista clínico, o
enxerto gengival livre permite um aumento previsível da
faixa de gengiva queratinizada, considerando o resultado
satisfatório obtido para o tratamento de retração gengival
classe II no presente caso.
CONCLUSÃO
No caso clínico relatado, observou-se que o enxerto
gengival livre é uma técnica cirúrgica aplicável para
obtenção de uma faixa adequada de gengiva queratinizada,
favorecendo o controle do biofi lme na região. Eventualmente,
pode propiciar recobrimento radicular, devendo-se
levar em conta as limitações estéticas desta técnica.
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